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Testamento Não É Só Para Ricos (Nem Para Quem Está Partindo)

  • Foto do escritor: Patrícia de Castro
    Patrícia de Castro
  • 5 de nov.
  • 11 min de leitura

Atualizado: há 5 dias

Por que ainda há tabu em torno do testamento?

Quando se fala em testamento, muita gente torce o nariz. Para muitos brasileiros, o tema ainda é cercado de mitos, receios e até superstições. É comum associar o testamento a pessoas muito ricas, doentes ou à beira da morte. Essa visão equivocada faz com que milhares de famílias enfrentem confusões, litígios e mágoas que poderiam ser evitadas com um simples documento.


A verdade é que o testamento não é só para ricos (nem para quem está partindo). Ele é, acima de tudo, uma ferramenta de autonomia, cuidado e respeito com quem fica. Serve para garantir que sua vontade seja cumprida — não importa se você tem um patrimônio robusto ou bens simples, mas com valor afetivo.


Pessoa assinando testamento com caneta tinteiro sobre mesa de madeira, simbolizando planejamento sucessório e organização familiar.
Planejar o futuro com calma é um ato de amor — até um simples caderno pode ser o começo de um testamento bem feito.

Planejar o futuro não precisa ser pesado ou sombrio. Pelo contrário: organizar os desejos em vida é um ato de amor, que oferece tranquilidade para o presente e paz para o futuro dos que você ama. Neste artigo, vamos mostrar como o testamento pode ser acessível, prático e essencial para qualquer pessoa, em qualquer fase da vida.


O que é um testamento e quem pode fazer?

O testamento é um documento legal que permite a qualquer pessoa maior de 16 anos, com plena capacidade civil, registrar sua vontade sobre o destino dos seus bens e decisões pessoais após a morte. É, portanto, uma ferramenta jurídica que garante que seus desejos sejam respeitados — mesmo quando você já não estiver aqui para expressá-los.


No Brasil, existem três tipos principais de testamento, todos reconhecidos por lei:

  • Testamento público: feito em cartório, com a presença de um tabelião e duas testemunhas. É o mais seguro, acessível e difícil de contestar.

  • Testamento cerrado: escrito pela própria pessoa (ou por alguém a seu pedido) e entregue lacrado ao tabelião. O conteúdo é sigiloso até a abertura judicial.

  • Testamento particular: também escrito pela pessoa, mas sem cartório. Deve ser lido e assinado na presença de três testemunhas que poderão confirmar sua validade posteriormente.


Muita gente pensa que só deve fazer testamento quem tem imóveis, empresas ou grandes somas de dinheiro. Mas isso não é verdade. Não é necessário ser rico para testar — o que importa é o desejo de organizar o que se tem, seja um carro, um apartamento ou até objetos de valor emocional.


Mais do que bens materiais, o testamento também pode incluir heranças afetivas e decisões pessoais importantes, como:

  • A guarda de animais de estimação;

  • Mensagens para filhos ou familiares;

  • Desejos sobre rituais religiosos ou de despedida;

  • A distribuição de lembranças, livros, joias, obras de arte ou objetos simbólicos.


Fazer um testamento é um direito de todos. E quanto antes esse planejamento começa, mais liberdade e tranquilidade você tem para viver o presente, com a certeza de que suas escolhas serão respeitadas no futuro.


Por que o testamento ainda é associado à morte iminente ou à riqueza?

Durante muito tempo, o testamento foi retratado como algo que só se faz no fim da vida — quase como um último suspiro jurídico. Em filmes, novelas e até nas conversas em família, ele aparece como um “documento de despedida”, reservado a milionários ou a pessoas doentes. Esse imaginário coletivo ajudou a cristalizar uma ideia equivocada: a de que planejar o futuro só faz sentido quando a vida está por um fio ou quando há uma grande fortuna em jogo.


Na prática, isso está longe da verdade. Fazer um testamento é um ato de planejamento, não de despedida. Não é preciso estar no fim da vida, nem ter patrimônio milionário. O que se precisa é de responsabilidade, maturidade emocional e a vontade de evitar conflitos futuros entre as pessoas que você ama.


Vamos imaginar um exemplo: Júlia tem 32 anos, é solteira, não tem filhos, mas tem um cachorro que considera parte da família. Também herdou da avó uma coleção de discos raros e gostaria que esses itens fossem entregues a pessoas específicas, com quem compartilha essas memórias afetivas. Mesmo jovem e com um patrimônio modesto, ela pode — e deve — registrar essas vontades em um testamento. Isso garante que seus afetos sejam respeitados e que ninguém tenha dúvidas ou disputas no futuro.


O testamento não precisa ser um gesto dramático ou fúnebre. Pelo contrário: pode ser um documento simples, feito com serenidade, que demonstra cuidado com o outro e com a própria história de vida. Quando quebramos o tabu e entendemos que testamento é sobre autonomia — e não sobre a morte —, abrimos espaço para viver com mais leveza e consciência.


Mesa organizada com documentos, caneta e café, simbolizando como fazer um testamento de forma simples.
Fazer um testamento pode ser simples, acessível e seguro.

Testamento como ferramenta de paz e prevenção de conflitos familiares

Imagine uma família reunida no momento mais delicado da vida: o luto pela perda de alguém querido. Agora imagine esse momento sendo atravessado por dúvidas, discussões, desentendimentos e até brigas por bens materiais ou decisões não registradas. Infelizmente, essa é a realidade de muitas famílias brasileiras quando não há um testamento para guiar o que deve ser feito.


O testamento é, acima de tudo, uma ferramenta de paz. Ele permite que a vontade da pessoa falecida seja conhecida com clareza, reduzindo significativamente o risco de conflitos entre herdeiros. Quando está tudo decidido e documentado de forma legal, não há espaço para interpretações diferentes, disputas por objetos, ou ressentimentos que muitas vezes duram anos — e desconstroem vínculos familiares.


Casos de irmãos que deixam de se falar, sobrinhos que brigam por heranças, netos que se sentem injustiçados — tudo isso pode ser evitado com um testamento feito em vida. Mesmo quando o patrimônio não é grande, as emoções envolvidas são profundas, e as disputas costumam surgir por valores sentimentais, não apenas financeiros.


Além disso, o testamento é um instrumento para proteger quem, de outra forma, poderia ser deixado de fora:

  • Filhos de relacionamentos diferentes;

  • Companheiros(as) sem casamento formal;

  • Pessoas que cuidaram de você, afilhados, amigos próximos;

  • Animais de estimação que dependem de você.


Testar é amar com responsabilidade. É reconhecer que, por mais que confiemos na harmonia da família, nada substitui o poder da palavra registrada. O testamento é a forma mais amorosa de dizer: “Eu cuidei de tudo para que vocês não precisem brigar por nada.”


Planejar é viver com tranquilidade: como o testamento pode trazer leveza ao presente

Muita gente evita pensar sobre o futuro por medo de lidar com a morte. Mas o curioso é que, ao planejar com clareza, o efeito é o oposto: em vez de pesar, o testamento traz leveza. Em vez de angústia, oferece alívio. E em vez de preocupação, proporciona uma sensação de controle e paz.


Fazer um testamento não significa esperar o fim — significa cuidar do agora com consciência. Quando você organiza seus desejos em vida, não apenas protege as pessoas que ama, mas também se liberta da ansiedade de imaginar o que poderia acontecer caso você partisse sem deixar orientações claras.


Imagine saber que, se algo acontecer, seus filhos serão acolhidos por quem você escolheu. Que seus bens, mesmo os mais simples, serão entregues sem disputas a quem você ama. Que suas vontades sobre cerimônias, rituais ou até cartas de despedida estão registradas com respeito. Isso tudo traz tranquilidade para viver o presente, sabendo que o futuro está amparado por escolhas conscientes.


Além disso, o planejamento sucessório pode ser uma experiência de autoconhecimento. Ao refletir sobre o que é importante deixar, você também se conecta com o que tem valor para você hoje — seus afetos, seus princípios, suas relações mais significativas.


Planejar é viver com tranquilidade — e morrer sem deixar confusão. O testamento, quando bem orientado e feito com tempo, é uma forma de organizar a vida e manter sua história íntegra, mesmo depois que você não estiver mais aqui para contá-la.


Casa de madeira de brinquedo iluminada por um pôr do sol, simbolizando proteção do lar e planejamento sucessório realizado com tranquilidade.
Planejar o futuro da família é construir um lar protegido — hoje, com calma e consciência.

O que pode ser incluído em um testamento?

Uma das dúvidas mais comuns é: “O que eu posso deixar em testamento?” A resposta é mais ampla do que a maioria das pessoas imagina. Muita gente acredita que só imóveis ou grandes valores podem ser registrados, mas a verdade é que qualquer bem, direito ou desejo legítimo pode ser incluído — desde que respeite os limites da lei.


Veja alguns exemplos do que pode ser deixado em um testamento:

1. Bens materiais

  • Imóveis (casas, apartamentos, terrenos)

  • Carros, motos, barcos

  • Dinheiro em contas, investimentos, joias

  • Obras de arte, coleções (livros, moedas, discos etc.)


2. Bens de valor afetivo

  • Objetos pessoais com significado emocional

  • Lembranças de família (álbuns, cartas, móveis antigos)

  • Itens que carregam memória ou vínculo afetivo e que você quer destinar a alguém específico


3. Decisões pessoais e éticas

  • Guarda de animais de estimação

  • Desejos sobre rituais religiosos, cremação ou enterro

  • Mensagens de despedida ou cartas a serem entregues após a morte

  • Indicação de tutor para filhos menores (que será validada judicialmente)


4. Heranças simbólicas

  • Direitos autorais ou intelectuais

  • Destinação de bens para instituições de caridade

  • Criação de pequenos legados para amigos próximos ou cuidadores


O testamento permite que você destine até 50% do seu patrimônio livremente, ou seja, a quem quiser, mesmo fora da família. Os outros 50% são reservados, por lei, aos chamados herdeiros necessários (como filhos, cônjuge e pais, se houver). Ainda assim, com planejamento, é possível equilibrar os interesses e personalizar o que será deixado.


Mais do que um instrumento jurídico, o testamento é uma forma de contar sua história através das escolhas que você deixa registradas. É uma ponte entre o que você construiu em vida e o que deseja perpetuar após sua partida.


Quando e por que atualizar seu testamento?

Fazer um testamento é um passo importante — mas ele não precisa (nem deve) ser um documento estático e imutável. A vida muda, e com ela mudam também os vínculos, os bens e as prioridades. Por isso, atualizar o testamento ao longo do tempo é essencial para garantir que ele continue refletindo fielmente sua vontade.


Você pode alterar, complementar ou até revogar um testamento a qualquer momento, desde que esteja em plena capacidade mental e respeitando os requisitos legais. Veja algumas situações comuns que indicam a necessidade de atualização:


1. Mudança no estado civil

  • Casamento, divórcio ou união estável alteram o contexto familiar e sucessório.

  • Incluir ou retirar companheiros(as) do testamento evita disputas e esclarece intenções.


2. Nascimento ou falecimento de filhos e herdeiros

  • Quando a família cresce ou perde um membro, é importante rever a distribuição dos bens e legados afetivos.


3. Aquisição ou venda de bens relevantes

  • Se você comprou um imóvel, vendeu um carro ou fez investimentos, isso deve estar refletido no testamento.

  • Bens que não existem mais ou que não foram mencionados podem gerar dúvidas entre os herdeiros.


4. Mudança de valores ou relações pessoais

  • Você pode querer incluir alguém que se tornou importante ou retirar quem se afastou.

  • Também pode desejar apoiar uma causa ou instituição diferente da anterior.


5. Atualização por questões jurídicas

  • Mudanças na legislação ou decisões judiciais podem afetar a validade ou eficácia de cláusulas específicas.

  • Um advogado pode revisar seu testamento periodicamente para garantir que tudo esteja em ordem.


Lembre-se: um testamento desatualizado pode causar tanta confusão quanto a ausência dele. Por isso, manter o documento coerente com sua realidade atual é uma forma contínua de cuidado com quem fica.


Se você já fez seu testamento há mais de cinco anos ou passou por alguma mudança significativa na vida, talvez seja hora de revisá-lo. Com pequenas correções, você evita mal-entendidos e garante que suas decisões continuem sendo respeitadas.


Dois homens discutindo de forma acalorada, representando conflitos familiares que podem exigir orientação jurídica e organização patrimonial.
Conflitos familiares acontecem — e o planejamento certo evita que pequenas discussões se tornem grandes batalhas.

E quem não faz testamento? O que acontece?

Se a pessoa falece sem deixar um testamento, a partilha de seus bens segue as regras da sucessão legítima, previstas no Código Civil brasileiro. Isso significa que a lei definirá quem tem direito à herança — e em que proporção —, independentemente do que a pessoa gostaria que acontecesse.


Nessa ordem legal de herdeiros, quem tem prioridade são:

  1. Descendentes (filhos, netos, bisnetos)

  2. Ascendentes (pais, avós)

  3. Cônjuge ou companheiro(a), dependendo do regime de bens

  4. Colaterais (irmãos, sobrinhos, tios), apenas na ausência de herdeiros diretos


O problema é que, sem testamento, não há espaço para vontades pessoais. Pessoas importantes na sua vida — como amigos próximos, afilhados, cuidadores, ou até mesmo um companheiro com quem você não oficializou união estável — podem ser totalmente excluídas da partilha, mesmo que fossem essenciais no seu cotidiano.


Além disso, a ausência de testamento costuma gerar:

  • Inventários mais demorados e caros, pois há mais necessidade de comprovação documental e intervenção judicial;

  • Conflitos entre herdeiros, especialmente em famílias com múltiplos casamentos, filhos de relacionamentos diferentes ou vínculos frágeis;

  • Desgaste emocional em um momento de luto, quando o ideal seria viver esse processo com o mínimo de estresse e disputas.


Sem um testamento, tudo vira suposição. E quando o afeto, o dinheiro e a justiça se misturam sem clareza, o caminho está aberto para mágoas, brigas e decisões que talvez nunca representem o que você realmente desejava.


Por isso, fazer um testamento é a forma mais segura de garantir que sua história, seus vínculos e seus valores não fiquem à mercê de interpretações ou omissões da lei.


Como fazer um testamento simples e acessível no Brasil?

Ao contrário do que muitos pensam, fazer um testamento no Brasil é mais simples, rápido e acessível do que parece. Com orientação adequada, é possível formalizar suas vontades de forma segura, legal e dentro do seu orçamento. O primeiro passo é decidir qual tipo de testamento é mais adequado para você.


As três formas principais de testamento são:

Testamento público

  • Feito em cartório, com um tabelião e duas testemunhas.

  • O conteúdo é lido em voz alta e registrado no livro oficial do cartório.

  • É o tipo mais seguro, acessível e difícil de ser contestado.

  • Custo médio: varia por Estado, mas gira em torno de R$ 600 a R$ 2.000 (dependendo do cartório e da complexidade).


Testamento cerrado

  • Escrito pela própria pessoa (ou por alguém de sua confiança), é entregue lacrado ao tabelião, que registra o ato.

  • Só será aberto judicialmente após a morte.

  • Tem a vantagem da privacidade, mas é mais suscetível a erros formais.


Testamento particular

  • Redigido e assinado pela própria pessoa, na presença de três testemunhas, que também assinam.

  • Pode ser feito em casa, de forma gratuita.

  • Porém, tem mais risco de ser contestado judicialmente, principalmente se faltar alguma formalidade.


Precisa de advogado?

Embora não seja obrigatório ter um advogado para fazer testamento, a orientação de um profissional especializado em Direito das Famílias e Sucessões pode ajudar a:

  • Evitar cláusulas inválidas;

  • Garantir que suas vontades sejam executadas corretamente;

  • Reduzir o risco de impugnação futura.


Existe testamento gratuito?

Sim! Pessoas com baixa renda podem procurar a Defensoria Pública da sua cidade, que oferece orientação jurídica gratuita e, em muitos casos, acesso ao testamento público sem custos.

Além disso, alguns cartórios promovem mutirões ou parcerias com instituições públicas para oferecer esse serviço de forma acessível à população.


Checklist básico para começar seu testamento:

  • Levante seus bens e dívidas (mesmo que poucos);

  • Faça uma lista de quem você deseja beneficiar e como;

  • Defina se deseja deixar orientações pessoais (animais, despedidas, guarda de filhos);

  • Escolha um formato: público, cerrado ou particular;

  • Procure um cartório ou advogado de confiança.


Fazer um testamento é mais sobre clareza do que sobre complexidade. Com boa orientação e um pouco de organização, você pode garantir sua autonomia e proteger quem você ama — sem pesar no bolso.


Testamento é um ato de amor — por você e pelos seus

Ao longo deste artigo, mostramos que testamento não é só para ricos (nem para quem está partindo). Ele é, na verdade, um instrumento de cuidado, de respeito e de amor. Não se trata apenas de deixar bens — trata-se de deixar paz. De evitar brigas. De garantir que suas vontades sejam cumpridas. De organizar a sua história de um jeito que honre quem você é.


Testar é assumir a responsabilidade por suas escolhas. É reconhecer que ninguém conhece melhor seus vínculos, seus afetos e suas prioridades do que você mesmo. E é justamente por isso que não faz sentido deixar tudo nas mãos da lei ou da sorte.


Fazer um testamento não é sobre morrer — é sobre viver com mais tranquilidade. É saber que, se algo acontecer, você fez sua parte para deixar tudo mais leve para quem continua.


Se você ainda acredita que testamento é algo distante da sua realidade, pense novamente. Seja para destinar um imóvel, um pet, uma coleção de discos ou apenas uma carta de despedida, o planejamento sucessório é uma ferramenta poderosa de autonomia e paz familiar.



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