top of page

Casamento Homoafetivo: Direitos Iguais, Amores Iguais – O que a lei garante e como exercer esses direitos

  • Foto do escritor: Patrícia de Castro
    Patrícia de Castro
  • 5 de nov.
  • 8 min de leitura

Atualizado: há 5 dias

Amor, Direitos e Reconhecimento

Durante décadas, casais homoafetivos viveram seus relacionamentos muitas vezes à margem da lei, sem o reconhecimento que garantisse segurança jurídica e dignidade. A luta da comunidade LGBTQIA+ pelo direito de casar não foi apenas uma questão de cerimônia ou de status social, mas sim uma batalha por direitos básicos — como herança, pensão, inclusão em planos de saúde e até mesmo a possibilidade de tomar decisões médicas em nome da pessoa amada.

E aqui surge uma pergunta que não pode ser ignorada: se o amor é igual, por que os direitos não seriam?


Casal de mulheres segurando uma bandeira do arco-íris ao ar livre, com um coqueiro ao fundo, simbolizando orgulho, união e direitos no casamento homoafetivo.
Amor e orgulho: duas mulheres celebrando sua união com a bandeira do arco-íris — um retrato de liberdade, igualdade e família.

No Brasil, a resposta a essa pergunta começou a mudar a partir de importantes decisões judiciais e resoluções que reconheceram o casamento homoafetivo como um direito legítimo, equiparando-o ao casamento heterossexual. Essa conquista não veio de um dia para o outro; ela é fruto de muita resistência, mobilização social e coragem de pessoas que não aceitaram viver na invisibilidade.


Neste artigo, vamos conversar de forma clara e acessível sobre o que a lei brasileira garante hoje aos casais homoafetivos, quais foram os principais avanços nos últimos anos e como você pode exercer esses direitos na prática. O objetivo é mostrar que o amor, quando reconhecido pelo Direito, se transforma em proteção, segurança e, principalmente, respeito.


Reconhecimento do Casamento Homoafetivo no Brasil

O caminho até o casamento homoafetivo ser reconhecido no Brasil foi marcado por passos importantes no Judiciário. Durante muito tempo, casais do mesmo sexo tinham apenas a união de fato, sem proteção legal clara. Isso gerava insegurança: se um dos parceiros falecesse, por exemplo, o outro muitas vezes não tinha direito à herança ou sequer era reconhecido como parte da família.


Essa realidade começou a mudar em 2011, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a união estável entre pessoas do mesmo sexo deveria ter os mesmos efeitos da união estável heterossexual. Essa decisão abriu portas para que casais homoafetivos fossem reconhecidos legalmente, garantindo proteção em questões patrimoniais, previdenciárias e familiares.


Dois anos depois, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) deu mais um passo fundamental: editou uma resolução obrigando todos os cartórios do país a realizarem casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo e também a converter uniões estáveis homoafetivas em casamentos, se fosse o desejo do casal.


Isso significa que, hoje, não há diferença jurídica entre um casamento heterossexual e um casamento homoafetivo. Ambos possuem os mesmos direitos e deveres, sem qualquer distinção.


É importante destacar também a diferença entre união estável e casamento civil.

  • A união estável é o reconhecimento da vida em comum, sem a necessidade de cerimônia formal, mas exige comprovação da convivência pública e duradoura.

  • Já o casamento civil é formalizado em cartório, com registro oficial, e não precisa de prova de convivência: basta a celebração e o registro.


Em resumo, o Brasil deu um passo histórico ao reconhecer o casamento homoafetivo. Essa conquista foi mais do que uma vitória jurídica: foi o reconhecimento de que famílias diversas existem, merecem respeito e têm o direito de viver com a mesma segurança e dignidade que qualquer outra.


Casal de homens se arrumando juntos no dia do casamento civil no cartório, representando amor, igualdade e direitos no casamento homoafetivo.
Amor que se prepara: dois noivos vivendo o momento especial de se arrumar para o casamento no cartório — um símbolo de direitos, afeto e igualdade

Direitos Iguais no Casamento Homoafetivo

Uma das maiores conquistas do reconhecimento do casamento homoafetivo no Brasil é a garantia de que todos os direitos e deveres são exatamente os mesmos de um casamento heterossexual. Isso significa que o casal tem proteção legal em diversas situações do dia a dia, desde questões financeiras até momentos delicados de saúde. Vamos entender melhor cada um desses direitos:


Direitos Patrimoniais

No casamento, os parceiros podem escolher o regime de bens (comunhão parcial, comunhão universal, separação de bens etc.), assim como acontece com casais heterossexuais. Isso garante segurança no caso de separação ou falecimento de um dos cônjuges.

  • Herança: o cônjuge sobrevivente tem direito legal à herança.

  • Meação: em caso de separação, os bens adquiridos durante o casamento são divididos conforme o regime de bens escolhido.


Direitos Pessoais e Familiares

O casamento homoafetivo também garante proteção em aspectos mais íntimos da vida familiar:

  • Adoção: casais homoafetivos podem adotar legalmente, recebendo os mesmos direitos e responsabilidades de qualquer outro casal.

  • Planos de saúde: é possível incluir o cônjuge como dependente.

  • Previdência: o cônjuge tem direito a benefícios como pensão por morte e inclusão em aposentadorias.


Direitos de Cidadania e Representação

Em momentos delicados, como doenças ou emergências, o casamento garante que o parceiro seja reconhecido legalmente para tomar decisões em nome do outro.

  • Tomada de decisões médicas: o cônjuge tem direito de decidir em situações de saúde.

  • Documentos oficiais: é possível incluir o nome do cônjuge em registros e certidões.

  • Nome e sobrenome: o parceiro pode adotar o sobrenome do outro, se desejar.


Em resumo, o casamento homoafetivo não é apenas um símbolo de amor e reconhecimento social. Ele é, sobretudo, uma forma de proteção jurídica, que assegura direitos fundamentais e traz tranquilidade para que os casais possam viver plenamente, sem medo de perder garantias essenciais.


Como Exercer Esses Direitos na Prática

Saber que a lei garante o casamento homoafetivo é importante, e é essencial entender como colocar esse direito em prática.


Passo a passo para casar no cartório

  1. Escolha do cartório – o casal deve procurar qualquer cartório de registro civil da cidade onde residem.

  2. Apresentação dos documentos – em geral, são exigidos:

    • RG e CPF de ambos;

    • Certidão de nascimento atualizada;

    • Comprovante de residência.Se algum dos parceiros já foi casado, é preciso apresentar a certidão de casamento com averbação do divórcio.

  3. Entrada do pedido de habilitação – é a solicitação oficial para o casamento, feita no cartório.

  4. Publicação de proclamas – o cartório publica um aviso sobre o casamento, permitindo que qualquer pessoa conteste, se houver motivo legal (assim como em qualquer outro casamento).

  5. Celebração – pode acontecer no cartório ou em outro local, conforme combinado. Após a cerimônia, é feito o registro oficial e o casal recebe a certidão de casamento.


E se o cartório se recusar?

Desde 2013, os cartórios são obrigados a realizar casamentos homoafetivos. Se algum se recusar, o casal deve:

  • Registrar a negativa por escrito;

  • Denunciar a recusa à Corregedoria do Tribunal de Justiça do estado;

  • Buscar apoio jurídico para garantir o direito.


A importância da assessoria jurídica

Embora o processo seja simples, em casos de dúvidas específicas — como escolha de regime de bens, planejamento sucessório ou adoção — contar com orientação jurídica pode trazer mais segurança. Um advogado especialista em Direito das Famílias pode ajudar a evitar problemas futuros e garantir que todos os direitos sejam plenamente respeitados.


Em outras palavras: o casamento homoafetivo é um direito conquistado e deve ser exercido sem medo. Com a documentação em mãos e conhecimento sobre os procedimentos, o casal pode formalizar sua união com a mesma tranquilidade e proteção que qualquer outro casal.


Desafios Ainda Presentes

Apesar de todo o avanço legal no reconhecimento do casamento homoafetivo no Brasil, a realidade mostra que ainda existem barreiras a serem enfrentadas. A lei garante os direitos, mas, infelizmente, a prática nem sempre acompanha essa garantia com a mesma rapidez e naturalidade.


Resistência social e preconceito

Muitos casais ainda relatam situações de preconceito em cartórios, hospitais, escolas e até mesmo dentro de suas próprias famílias. Embora a lei seja clara, a mudança cultural leva tempo, e o preconceito pode aparecer em atitudes sutis ou até mesmo em negativas explícitas de direitos.


Discriminação em serviços

Não são raros os casos em que casais homoafetivos enfrentam dificuldades para incluir o cônjuge em planos de saúde, registrar filhos ou mesmo ter acesso a benefícios previdenciários. Nessas situações, é essencial que o casal saiba que a lei está ao seu lado e que existe caminho para recorrer.


O papel da denúncia e da Justiça

Sempre que houver recusa ou discriminação, é importante não se calar.

  • Denuncie o ato discriminatório ao órgão competente (cartório, conselho, corregedoria, Ministério Público).

  • Guarde provas, como documentos ou mensagens que demonstrem a recusa.

  • Se necessário, busque orientação jurídica para fazer valer os seus direitos.


Cada vez que um casal faz valer a lei, abre espaço para que outros casais também sejam respeitados. A luta por igualdade não termina com a conquista da lei; ela continua na forma de garantir que essa lei seja efetivamente aplicada.


Em resumo, os desafios ainda existem, mas não diminuem a força da conquista. Pelo contrário: reforçam a importância de continuar exigindo respeito, exercendo os direitos conquistados e fortalecendo a visibilidade das famílias homoafetivas.


Casamento Homoafetivo e a Construção de Famílias

Um dos maiores símbolos do casamento é a possibilidade de formar uma família. Para casais homoafetivos, esse desejo não é diferente. A boa notícia é que a lei brasileira reconhece esse direito, garantindo que famílias diversas também sejam protegidas e respeitadas.


Casal de homens alimentando o filho na cadeirinha, representando família homoafetiva, cuidado, afeto e o direito à paternidade.
Paternidade é amor e responsabilidade — e aqui ela acontece em dose dupla.

Adoção conjunta

Desde que o casamento homoafetivo foi reconhecido, casais do mesmo sexo têm o direito de adotar filhos de forma conjunta. Isso significa que ambos os cônjuges são considerados legalmente pais ou mães da criança, com todos os direitos e responsabilidades: da guarda à herança. Esse avanço trouxe mais segurança às crianças, que passam a ter dois responsáveis legais, além de mais estabilidade emocional para crescerem em um ambiente de afeto e cuidado.


Multiparentalidade

O Direito das Famílias brasileiro também avançou ao reconhecer a multiparentalidade. Isso significa que uma criança pode ter mais de dois pais ou mães registrados em sua certidão de nascimento.Na prática, isso pode acontecer em famílias homoafetivas quando, por exemplo, há filhos de relacionamentos anteriores, ou quando há acordo entre casais e doadores em processos de reprodução assistida. O foco é sempre o melhor interesse da criança, garantindo que ela tenha todos os vínculos afetivos reconhecidos.


Reprodução assistida

Casais homoafetivos também têm direito de recorrer à reprodução assistida (como inseminação artificial ou fertilização in vitro), seja com material genético próprio ou de doadores. Esse recurso tem permitido que muitos casais realizem o sonho de ter filhos biológicos, fortalecendo o reconhecimento de que famílias podem nascer de diferentes formas — todas legítimas.


Casal de mulheres segurando um bebê no colo, representando família homoafetiva, afeto e o direito de formar uma família com segurança jurídica no Brasil.
Família é afeto: duas mães com seu bebê, em um vínculo de amor, cuidado e proteção real.

O mais importante é entender que, no Brasil, a família não é mais definida apenas por um modelo tradicional. Família é, acima de tudo, afeto, cuidado e responsabilidade. E o casamento homoafetivo abre caminhos para que esses laços sejam construídos com a mesma dignidade e segurança de qualquer outra família.


Direitos Iguais, Amores Iguais

O reconhecimento do casamento homoafetivo no Brasil não é apenas uma vitória jurídica. Ele representa um marco de dignidade, igualdade e respeito para milhares de pessoas que, durante anos, tiveram seus relacionamentos invisibilizados.


Hoje, a lei garante que casais homoafetivos possam amar e constituir família com a mesma segurança de qualquer outro casal. Do direito à herança à possibilidade de adotar, do acesso a benefícios previdenciários ao reconhecimento da multiparentalidade, cada conquista reforça uma mensagem poderosa: o amor é igual, e os direitos também devem ser.


Ainda há desafios a enfrentar, como o preconceito e a resistência social. Mas cada casamento celebrado, cada família reconhecida, cada direito exercido é também um passo para que a igualdade se torne cada vez mais natural em nossa sociedade.


Na Ohana Direito das Famílias, acreditamos que falar de Direito é também falar de amor, de afeto e de respeito. Afinal, o Direito das Famílias não existe apenas para regular papéis e documentos, mas para proteger o que temos de mais precioso: os laços que nos unem.

Porque, no fim das contas, casamento homoafetivo é sobre direitos iguais — mas também sobre amores iguais.


Comentários


bottom of page